sexta-feira, 10 de março de 2017

Dia da mulher


Pestanas, mais extensões,
Tudo de matéria-prima,
Umas quantas injeções.
Levo dez quilos em cima.

O corpo é meu passaporte,
Ponho, tiro, estico, mudo.
Para equilibrar a sorte,
Na roleta jogo tudo.

E lanço a bola por perto,
Na busca dum ideal.
É um número, por certo,
Que, por azar, me fica mal.

Fico redonda naquilo,
Um tecido engomado.
Juro-vos que é do vestido
Que me ficou entranhado.

Lavo três vezes a quente,
Dou-lhe com o ferro mais três.
Se o tecido é resistente,
O mal é de quem o fez.

E se não posso pagar
Esta minha condição,
Ser amante e destilar
Nas mãos de quem é patrão?

E cabe em qualquer quadrado
Porque é quadrado também.
Não tira de nenhum lado,
Nem põe mais do que o que tem.

Maria da Fonte

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